sexta-feira, 20 de maio de 2022

 Era ela. Por tanto tempo desapareceu, fez uma cratera em mim. E mesmo habitando o mesmo corpo, faltava tanto pra voltar. Era desses vazios que engolem e não digerem. Estar de pé doía, ser doía, permanecer não tinha sentido. E aí, como uma força sem explicação, ela quis voltar. Quis invadir o espaço, saudar a existência, voar. Cedi o lugar, não era minha intenção tê-la tirado daqui. Contribuí, para que as mágoas não pudessem mais me afogar. E assim fez-se presença, irradiante frente ao espelho em que me prostrei. Era eu. E o pranto tomou outro rumo, caiu no riso e chamou a calmaria. Quisera eu ter a sanidade de nunca expulsá-la, mas contento-me com a paz de refazer esse laço. Toda noite agora eu sorrio, no meu berço de afeto, na minha casa pele, no meu leito sonho.

Ela sou eu.