sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

 Que males fiz eu, que ruas cruzei sem olhar o sinal, que mundos criei tentando fugir de mim?

Sem respostas. Sem o torpor usual ( ou exageradamente imersa nele). O luto constante abala o que imaginei controlar. Que posso eu querer, se, sentindo a distância, afogo o coração em barris de fogo? Se, sentindo o real, insisto no hesitar? Se, sentindo a fraqueza, me finjo forte e visto o manto vil da mentira?

Que males te assombram quando a lembrança martela?

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 Quisera poder alocar esse espaço que me intriga. Vender pra um outro eu qualquer. Livrar de mim os achismos de ser quem sou - ou deveria ser.

Quisera poder, num suspiro de retorno, enfrentar a mim mesma. Meus males me atacam, meu bem me paralisa.

Quisera dizer, e dizendo, tocar, e tocando, fazer perceber os emaranhados que me afastam do que te aproxima.

Quisera estar em paz com meus demônios, limpa de mim, cercada das certezas que tive.

E entrego tanto, entrego tudo. Não quero carregar nas mãos a ferida de outrem. Que carregue eu meu coração em pedaços. 

Que carregue eu meu coração - e o que ele guarda.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Ainda respiro daqui.

E embalo meus ais em canções no seu tom.

Reviro minha pele que insiste no empalidecer.

Recrio as vidas que decerto tu habitarias.

Revivo os momentos na busca de onde perdi.

Ainda respiro daqui.

sábado, 22 de julho de 2023

 Da janela que lhe escrevo a brisa bate como quem anseia entrar... E entre todos os vãos que me permito, tua presença preenche, tal como líquido que se derrama inundando tudo que encontra. E me deixo, sem medo, sem pudor, sem culpa do que é e do que será. Nas fases que enfrento, a sua não quer passar... Ou eu?

Da janela que abriu, te vejo. Horas a fio, sorriso estampado, eco embriagado. Por quantas estações seguirei antes que a chegada me aceite? Ou quando e onde a sua me estacionará?

De onde suspiro, mundos colidem, esperanças berram, amores paralisam. Deveras sou um pontinho finito nesse mar de mãos que se deixam escapar, e voltam aflitas no aperto do que se tem. Quem dera me olhes dessa janela e, num aceno sincero, digas que vem.

 Às vezes é assim. Imóvel. Na mudez do meu barulho tentando expulsar as palavras. No turbilhão que só eu sinto. No zelar do sentir alheio. No afago que nem sempre me dou. No erro que me corta do mundo perfeito que crio e recrio sem cessar. E está lá, no olhar, no fundo não é assim tão oculto. E toda vez acho que pode ser mais. Que deveria ser. Que preciso ser. E desmonto, desabo, descanso. Revogo. Renovo. Respiro.

Às vezes nem assim é.

Às vezes eu só sussurro que vai passar.

E às vezes passa demais. Perde a estação.

Mas eu volto. Eu estou aqui.

 E eu na espera, na espreita, sempre atenta. Teus caminhos não cruzam os meus, teu olhar vai distante procurar outros horizontes. Em cada linha, cada verso, cada vaga que se estreita em caber, mais um triz se achega a mim... 

De todas as minhas falhas, o amor é a maior. Na intensidade do trocar, deixo escapar um tanto que não cabe em todo lugar. No inseguro minha colheita é farta, corta-me os pulsos a navalha do entregar. E cedo, pois de esconder já passou meu tempo. Entrego o inteiro, pra que aches a parte que lhe transborde a alma.

E na calada, no sucinto, no grito, reina meu coração.

Teus caminhos, meu labirinto.

 Eu sou a junção dos pedaços. Das peças que colhi no caminho, das experiências que me enfiaram goela abaixo, das falhas que cometi, do sucesso que obtive nas tentativas, do eu calado que gritou pra que eu pudesse me reencontrar.

Eu sou a parte que, na pequenez da capa, preenche uma sala imensa de ecos. E risos, e canto, e sentimentos.

Eu sou de tantas formas que me proponho ser, e de tantas, tentei as que me cabiam. Ser eu. Ser minha. Ser mundo.

Nas entranhas que me habitam, nas palavras que me engasgam, no afago que ao alheio proponho, de tudo agora só quero a leveza, o caminhar nas nuvens com pés firmes. 

Me bastam meus cacos, me bastam meus eus, meus meios e fins.

E de peça em peça, completei meu escudo, meu lar, o inteiro é ainda uma parte.

 Meias palavras bastam.

Entender me dói, corta em fatias que me levam de volta ao começo.

E recomeço, que ainda me cabem todos os sentimentos.

A ira da culpa, a paz do correto, o choro da liberdade. E é feliz a completude de si.

Das páginas que li, ainda matuto as entrelinhas. Elas me tem.

A cada dose, a certeza de que a garrafa escorre entre minhas mãos. Seca a boca.

E como numa valsa, tudo se alinha no embalar dos corpos. 

De todos os saberes, o não saber é o que me provoca. Me atira, me capta, seduz.

E quando sei, já é hora de ir.

 Inconstante. Imperfeito. Impulsivo.

Aos reis seus castelos. Eis que à beira d'água a areia desmorona.

E faltam os fortes, faltam os reais, faltam os suspiros.

Da terra firme observo. Eram tantas interrupções que somente de longe pude entender. 

Das feridas, dos impactos, dos desatinos, das leis que inventaram e não me cabem.

Sei o quanto dói e por isso dou meu lado paz, riso, loucura. Sei o quanto vale esquecer as feridas. E acolho, dou asa, abrigo dos males.

Ímpar. Improvável. Implacável.

 Assusta. E não pelo ser. 

Parecer é o que desarma. Enquanto aos prantos se tenta equalizar, por fora o sonoro eco da aparência imobiliza.

Em tantos cacos a vida me fez, mais parece pesado o olhar alheio.

Que de quimeras vivo, iludindo um coração fraco de bater. Na ânsia de mostrar o que vale, mais me matam as percepções de um casco provisório.

Vês? Não é o que parece. Nunca foi.

Mas lá no fundo, na alma que estes olhos abrigam, há um tanto que poderias enxergar.

E fali novamente na entrega. Porque quem não quer receber, arruma qualquer motivo para escapar.

Por dentro é tão maior, nas veias me correm rios, afogando o amargor de ser pronfuda quando o raso cativa a multidão. 

Eis que me vejo onde sempre deveria estar, onde posso ser do tamanho que sou, onde o acalento me faz companhia. Sou minha.

 Tremores.

O salto do abismo pousou em mim.

De tantos suspiros, adocei minh'alma.

As voltas me fizeram tonta, embriagada do meu ser.

E no dobrar da esquina, me deparo com o que temia... A calmaria.

Numa veste que sei bem não era minha.

Mas me coube bem, me acolheu, me fez sorrir.

Em plena noite, em plenos pulmões, quantos erros cometi?

Quantos eus afoguei?

Qual espaço teu preencherei?

Qual parte minha cabe em ti?

Nem sempre a queda é o fim.


Caí em mim.

 Lembrança.

Pequeno espaço que dilacera.

Nas veias corre a ânsia, a irresistível luta pelo futuro.

Tremor, desejo, alucinação.

Em meio às quimeras - que tive-, fugas tuas que me corrompem. Ou te?

Ensaios que não serão apresentados, destinos bifurcados.

A noite sussurra que logo vem outro dia, já não me basta o hoje. No encolher do passado, o futuro se achega, me engole.

Lembrança.

Vazio do que outrora preenchia.

Nas ruas o cálice do porvir me chama para uma nova ressaca.

Encanto, distância, exaustão.

De tudo que me valia, já não cobro mais, já não me importa mais. Sigo o fluxo de uma alma em chamas.

Lembrança. Teu olhar me ata. Tua boca me aviva. Tua ausência ecoa.

 De onde vem o amor? Eis a pergunta que embrulha o estômago, dilacera as entranhas, bagunça a cabeça. E nos entregamos, mesmo sabendo a confusão que causa.

Para onde vai o amor? Quando as borboletas já voaram para longe, quando o adeus é inevitável? Poderia ser calmaria, mas sempre tem um furacão nos aguardando.

Como acaba o amor? Quantas vezes procuramos respostas para perguntas que nasceram para não tê-las? Afinal, se nada é para sempre, por que matutamos tanto? Incorrigível amor, de onde me olhas?

 Um pulo, mergulho.

A profundidade é lei. Nunca de cabeça em rasas marés. E a dança se faz, entre ondas e suspiros, no embalar de correntezas e calmaria. De tanto zelo, tanta fuga, o encontro do improvável. Do avesso e em toda parte. O amor só afoga quando é pouco.

 Eu não era eu.

De tantos espaços e caminhos, virei labirinto.

Em tantas tomadas, refém do que me propus, fali amargamente.

E revivi, inúmeras vezes tentando o acerto. Reavaliei, reestruturei, recomecei.

E cada dose foi o suficiente para embriagar minh'alma. O corpo coberto de olhos que não me vêem, o cálice de conversas mundanas, a foice que me envolve a carne.

Eu não era eu.

E até convinha dizer que sim, que tudo de perfeito podia me habitar, que os laços frouxos estavam ali para não sufocar. Mas a verdade é que os nós me alimentam. Só assim o vôo é seguro e me mantém viva.

Agora sou.

 Eu sei que você viu

E percebeu

Que não era mais

Que levou tempo

Mas passou

Como o vento soprando

Todas as sensações

Alastrando pelo corpo

Que já não te pertence

Que já não te chama

E enquanto percebes

Passou também o agora

Como passam as horas

E todo minuto que nelas percorrem

Eu sei que sentiu

E soube

Que o passado também dói

Mas ensina

Prepara

E o presente traz de volta

Só o que sempre foi seu

Hoje o adeus sorriu

E finalmente abriu asas

Teu canto ficou guardado

E mesmo no fim

Agradeço os porquês

E anseio como criança

O retorno a mim.

 Lá no fundo o embate, que mais importa qdo as tentativas são falhas?

Até quando se entende normalidade o palco dessas batalhas?

Retornar, reaver, reinvidicar.

No espaço em que cabem meus lamentos, cabe também a poesia de noites em claro, o cantarolar na chuva, o desabrochar de paixões febris.

E tudo me deixa às voltas com minhas convicções. Que mais querer quando o sopro da noite me fecha os olhos? Que outro embalar sobrevive a mais uma estranheza de achismos?

Coração fraco, impune de todos os amores, vem a mim com quimeras de uma vida.

E falho, que o ato me corta os pulsos, sufoca os laços, estampa meu riso em lápides que não me acolhem.

Ser carne e osso é o estopim do viver. Sangrar é o início do fim.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

 Inveja eu tenho dos pássaros, da neblina que paira nas montanhas, do vento que leva as folhas, da chuva que cai salgando os lábios que olham os céus.

Inveja eu tenho do belo, do livre, do finito, do lar onde habita a paz.

Inveja eu tenho do mar, que entre tormenta e calmaria, purifica os corpos que ali adentram. E da pele, que vezes arrepia no roçar de teus dedos. E da boca, que beija calmamente, deleitando-se na saliva de paixões abruptas. E do suor, escorrendo cálido entre os corpos dos amantes.

Inveja eu tenho de quem, em posse de teu ser, afaga tua face como quem sabe acreditar no pra sempre. E acreditando, escora o peito em ilusões que eu também queria conhecer.

Inveja eu tenho do que não posso ter. E não tendo, desafio a vida, luto e brado, reafirmo, me afago. Todo trago me faz gélida, intrépida, errante, fugaz, desperta.

Inveja eu tenho de quem, entendendo a vida, põe-se nela com a firmeza do saber, mesmo quando nem tudo sabe. 

Inveja eu tenho das palavras que afirmam, da música que sai de tuas mãos, da bebida que aquieta tua alma, da calma de quem sabe esperar. Eu espero como vulcão. Eu te leio como tornado. Eu te escuto como trovão. Eu te devoro.

Inveja eu tenho do tempo que tive, do que te roubei, e do que virá.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 Efeito colateral.

Espasmos de outrora invadindo meu silêncio. Em toda direção um lembrete do não pertencer. Em todo vazio um gole de solidão.

Num estalar de dedos tudo se vai, foge como se não fosse certo viver a intensidade. E sem ela me recuso.

De tantos caminhos, onde mais poderia caber, ser, brotar, merecer?

Nos ensaios e tentativas, tanto. No real o medo me rouba as possibilidades. Dilacera o resto que ainda tinha. E deixo, porque essa dor me faz compreender que nunca será eu.

Teus ouvidos nunca ouvirão a parte que dói mais. Teus olhos nunca verão o tanto que colhi e entrego. Tua pele nunca sentirá esse calafrio quando me dispo do entender. Porque tudo que eu queria era tentar. E outro abismo me engoliu.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

 Que as oportunidades sejam aproveitadas,

Os anos sejam leves,

As batidas compassadas,

O amor reinventado,

O terror breve.

Que tudo que valha venha e fique,

Cresça, brinque,

Encontre, ilumine,

Entrelace, unifique,

Liberte, contamine.

 Olhos, são eles que te miram enquanto minha mente divaga em vãs ilusões .

Vasculham o desconhecido para compreender a complexidade da vida.

Encaram os medos para tornar a bravura real.

Olham, mas nem sempre conseguem enxergar a simplicidade do viver.

Eu te vejo com eles, mas também a alma te acompanha.

 Eu amo as nuances. Os devaneios. O imperfeito. E talvez isso me custe um tanto.

Porque na percepção de perfeição que me cobro, deixo para os outros o leve, o necessário. E cansa um tanto.

Sempre poder não é um dom, é fardo. E carrego sozinha, que não cobro de outrem a carga que me cabe.

Vezes suspiro, vezes engasgo.

Das quimeras, a indispensável atenção de trato, o afago que vai além corpo, o respeito que perdura.

Dou de mim o que tenho, e nada posso querer se noutro eu não há espaço para receber.

Continuo amando, tentando o equilíbrio, errando alvos. E por vezes o prêmio não vem para quem atira. Tornei-me alvo de minha ânsia, e fui despedaçada por flechas que não eram para mim.


 Achei-me nos vãos que me habitavam, busquei o outro, e mal percebi que somente eu era meu lar.

Vaguei por histórias que não me pertenciam, escolhi caminhos que não me acolhiam e, de tanto olhar o espelho, entendi. Em tanto quanto lugar que vou, lá me vejo e me permito experimentar, deixei de lado meus nãos. E vi que isso assusta, não a mim, mas a quem ainda não descobriu como 'ser-se'. 

Agora, cada parte de mim pertence a um mundo que é só meu, e de quem eu permito que nele permaneça.

 De todos os acasos, o único que me faz continuar é esse - que não vos conto por medidas protetivas. Me faz dançar às voltas com minha solidão, correr em torno do quarteirão de mim mesma. 

Hei de fazê-lo real, que por tudo luto, e sei que assim tu - o acaso que tanto quero, fará rotina esse canto. 

De todos os caminhos, esse labirinto é o que me atrai - de chegadas e partidas que tu ainda nem imaginas.

De mostrar que o tudo ainda é pouco e o pouco nada é. 

De todos os acasos, a flor mais bela, o céu mais azul, as ondas mais calmas, o pássaro mais colorido, a nota mais alta. 

E por acaso, tu saberás o que lhe cabe