quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

 Inveja eu tenho dos pássaros, da neblina que paira nas montanhas, do vento que leva as folhas, da chuva que cai salgando os lábios que olham os céus.

Inveja eu tenho do belo, do livre, do finito, do lar onde habita a paz.

Inveja eu tenho do mar, que entre tormenta e calmaria, purifica os corpos que ali adentram. E da pele, que vezes arrepia no roçar de teus dedos. E da boca, que beija calmamente, deleitando-se na saliva de paixões abruptas. E do suor, escorrendo cálido entre os corpos dos amantes.

Inveja eu tenho de quem, em posse de teu ser, afaga tua face como quem sabe acreditar no pra sempre. E acreditando, escora o peito em ilusões que eu também queria conhecer.

Inveja eu tenho do que não posso ter. E não tendo, desafio a vida, luto e brado, reafirmo, me afago. Todo trago me faz gélida, intrépida, errante, fugaz, desperta.

Inveja eu tenho de quem, entendendo a vida, põe-se nela com a firmeza do saber, mesmo quando nem tudo sabe. 

Inveja eu tenho das palavras que afirmam, da música que sai de tuas mãos, da bebida que aquieta tua alma, da calma de quem sabe esperar. Eu espero como vulcão. Eu te leio como tornado. Eu te escuto como trovão. Eu te devoro.

Inveja eu tenho do tempo que tive, do que te roubei, e do que virá.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tudo muda nada muda. Devoro-te!

Vini disse...

Nunca achei tão sabia e doce alguem que sentisse tanta inveja kk